A origem do conceito One World, One Health!

O Brasil segue a linha de muitos países que já tomaram medidas para reduzir o uso de antibióticos em animais destinados à produção de alimentos. Da mesma forma, a União Europeia (EU) já havia proibido, em janeiro de 2006, o uso de antibióticos promotores de crescimento (Gaggia et al., 2010).

A suinocultura nacional está em sintonia com as políticas internacionais, uma vez que essas restrições se enquadram em uma tendência global. Com isso, a Suinocultura Brasileira permanece alinhada às políticas apoiadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Na outra ponta da cadeia estão os consumidores, que vêm aumentando a demanda por proteínas animais produzidas sem ou com uso restrito de antibióticos. Por essa razão, grandes players mundiais do setor de alimentação têm adotado a política de “ausência de antibióticos” para o fornecimento de carne em suas redes de supermercados e/ou fast food.

A resistência aos antimicrobianos

Os antimicrobianos têm sido utilizados na produção animal para tratamento, prevenção de doenças e como promotores de crescimento por mais de 50 anos. Entretanto, o impacto desse uso sobre o tratamento de doenças em humanos está sendo amplamente debatido.

Segundo OMS, se seguirmos utilizando os ATB’s da maneira que estamos fazendo e não tomarmos nenhuma medida em relação ao tema, estima-se que até 2050 praticamente todos os antimicrobianos serão ineficazes na prevenção e tratamento de doenças humanas.

A resistência aos antimicrobianos não é um fenômeno novo. Inicialmente, foi reconhecido como uma curiosidade científica. Posteriormente, como uma ameaça à eficácia dos tratamentos.

No entanto, com o desenvolvimento de novas famílias antimicrobianas nas décadas de 1950 e 1960 e as modificações dessas moléculas nas décadas de 1970 e 1980 criaram uma falsa sensação de segurança e a crença de que sempre poderíamos nos antecipar aos patógenos. No entanto, hoje essa complacência nos está custando muito caro pois, a geração de novas moléculas está cessando.

Uma das principais causas do surgimento da resistência é o próprio uso dos antimicrobianos. Isso ocorre porque a pressão seletiva resulta da combinação de três fatores: o uso excessivo — observado em muitas partes do mundo, especialmente em casos de infecções sem importância —, o uso incorreto, devido à falta de acesso a diagnósticos adequados, e o uso em subdosagens (OIE).

Em 2017, a revista The Lancet Planetary Health publicou uma metanálise. Esse estudo mostrou que as intervenções restringindo o uso de antibióticos em animais de produção reduziram as bactérias resistentes a antibióticos em até 39%. De fato, qualquer uso inadequado de antimicrobianos (uso desnecessário, uso contra microrganismos não suscetíveis, subdosagem etc.) aumenta o risco de desenvolvimento de resistência.

One World, One Health

O novo conceito “One World, One Health” (Um mundo, uma saúde), surgiu recentemente, demonstrando a preocupação com a correlação entre doenças de animais e humanos. Desse modo, reforça-se a compreensão de que se trata de um problema de saúde pública.

Em maio de 2015, a 68ª Assembleia Mundial de Saúde reconheceu a importância do problema de saúde pública da resistência antimicrobiana. Com isso, adotou um Plano de Ação Global que propõe intervenções para controlar tal resistência e, em particular, reduzir o uso desnecessário de antimicrobianos em humanos e animais. Estas novas recomendações da OMS visam preservar a eficácia dos antibióticos importantes para a medicina humana, reduzindo seu uso desnecessário. A saber:

– Em primeiro lugar, redução geral no uso de todas as classes de antimicrobianos de importância médica em animais destinados de produção.

– Além disso, deve haver restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como promotor de crescimento em animais de produção.

– Da mesma forma, recomenda-se a restrição completa ao uso de todas as classes de antimicrobianos de importância na medicina humana para uso como tratamentos preventivos (sem diagnóstico clínico) em animais de produção, podendo somente serem utilizados os antimicrobianos em animais saudáveis para prevenir uma doença se ela tiver sido diagnosticada em outros animais na mesma granja/instalação.

– Por fim, recomenda-se que os antimicrobianos considerados críticos à medicina humana não sejam utilizados para controle da disseminação de doenças clinicamente diagnosticadas em grupos de animais de produção.

Segundo a OMS, tais medidas se fazem necessárias devido ao uso excessivo e inadequado de antibióticos em animais e em seres humanos. Como consequência, essa prática tem contribuído para uma crescente ameaça de resistência aos antibióticos, tornando muitos tratamentos existentes ineficazes.

Conclusões

Segundo a OIE, todos temos um papel importante a desempenhar para preservar a eficácia dos antimicrobianos, os quais são essenciais para a saúde e o bem-estar dos animais e dos seres humanos. 

Com esse propósito, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMS) lançou uma campanha mundial de conscientização sobre o uso racional de antibióticos no tratamento de infecções em animais.

Intitulada “Only Five” (Somente cinco), a campanha destaca as principais regras para o uso adequado de antimicrobianos. Além disso, é voltada tanto para médicos-veterinários quanto para a sociedade em geral, reforçando, de forma prática, os princípios já abordados anteriormente sobre a importância da responsabilidade no manejo desses medicamentos.

Referências Bibliográficas

GAGGÌA, F.; MATTARELLI, P.; BIAVATI, B. Probiotics an prebiotics in animal feeding for food production. Review. International Journal of Food Microbiology, v.141, p.S15-S28, 2010.

OIE -https://www.oie.int/

OMS 2017. Algunos derechos reservados. Esta obra está disponible en virtud de la licencia CC BY-NC-SA 3.0 IGO. WHO/NMH/FOS/FZD/17.4.

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